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#308 Verificando os Fatos com o Verificador de Fatos do Debate Craig-Rosenberg

May 16, 2015
Q

A Sociedade de Filosofia da Universidade de Indiana colocou em seu blog o que eles estão chamando de uma verificação de fatos de seu debate com o Dr. Rosenberg (http://iuphilosophy.com/2013/02/18/fact-checking-the-craigrosenberg-debate/).

Foi uma leitura interessante, e você se saiu muito melhor, pela estimativa deles, do que Rosenberg. Mas eu estava interessado na resposta deles ao seu argumento de que a causa do universo deve ser pessoal:

Nós temos que ser especialmente cuidadosos da falácia do equívoco aqui. Craig usa 'imaterial' como significando 'fora do universo "(como Deus), mas ele também usa a palavra para significar 'não espacialmente estendido' (como estados mentais humanos comuns). Mas minha mente está no universo; mais especificamente, está nos Estados Unidos. Minha fome atual, por exemplo, não está em lugar nenhum. (Nem em todos os lugares!) É no lugar específico onde estou. Mas isso significa que nós não conhecemos nenhuma mente que não é física no sentido de Craig, e não é óbvio que pode haver tais mentes. Da mesma forma, as mentes como as conhecemos são todas temporais; não é claro que temos alguma ideia coerente de um pensamento ou sensação exitindo fora do próprio tempo.

Eu tenho pensando em algumas objeções semelhantes, e acho que este é o lugar onde eu fico preso em usar o Kalam. Qualquer ajuda que você puder dar seria apreciada.

David

Coréia do Sul

  • Korea South

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

David, obrigado por me informar sobre este blog! Estou muito feliz que o nosso debate tem estimulado uma discussão mais aprofundada.

Este blog não é realmente verificação de fatos (o que teria envolvido alertar leitores para erros factuais como eu atribuindo uma citação a Penelope Maddy em vez de Mary Leng, ou eu dando a data da morte de César Augusto como 17AD em vez de 14AD) mas ele está entrando no próprio debate ao fazer a avaliação dos argumentos. Ainda assim, estou grato pela apreciação relativamente positiva oferecida por um blogueiro, cujas simpatias não são com o meu lado (como é evidente pela sua ligação a sites céticos, ele me chamando um "apologista" ao invés de um filósofo da religião, seu fácil descaso com trabalhos acadêmicos de N.T. Wright, porque Wright é "um apologista cristão e bispo" e do trabalho dos historiadores do Novo Testamento em geral porque eles são supostamente cristãos, e assim por diante. Com isso ele mostra sua falta de familiaridade com estudos do Novo Testamento e com o ceticismo com que esses estudiosos, que incluem entre suas fileiras não-teístas como Bart Ehrman e estudiosos judeus como Geza Vermes que concorda com a minha aproximação três fatos, se aproximam de suas fontes.)

Mas para chegar ao problema sobre o qual você pergunta: não há falácia do equívoco acontecendo aqui. Por "imaterial" eu não quero dizer nem "fora do universo" nem "não espacialmente estendido." Eu estou usando a palavra no sentido da linguagem comum para significar "não material" ou "não-físico." Então nós sabemos de mentes que são não-físicas, ou seja, a nossa própria! Esse foi o fardo do meu argumento de estados intencionais. Além disso, o argumento kalam (como o argumento de contingência, o argumento de ajuste fino, e o argumento moral) simplesmente é um argumento para a existência de uma mente além do universo. Se o blogueiro pensa que não pode haver uma mente além do universo, então era melhor ele ter algum argumento para essa conclusão; caso contrário, ele está apenas incorrendo na petição de princípio em favor do ateísmo. Ele levanta a pergunta de se faz sentido falar de uma mente atemporal, uma vez que todas as mentes que conhecemos são temporais. Mas então o blogueiro tem o ônus de demonstrar que a temporalidade é uma propriedade essencial, ao invés de meramente propriedade comum, de mentes. No meu livro Time and Eternity eu tenho um capítulo sobre a coerência da personalidade atemporal e não tenho sido capaz de encontrar qualquer argumento que mostre que a noção de uma pessoa atemporal é incoerente. Remeto-lhe para a discussão lá.

Ironicamente, o blogueiro continua a dizer: "À medida que temos algum vago sentido de uma mente assim, certamente nós também podemos ter um vago sentido de branas, Formas platônicas, leis de livre flutuação, ou outras causas que transcendem o mundo." Mas branas não são entidades não-físicas (veja a discussão de cosmologia brana no capítulo que eu e Jim Sinclair escrevemos no Blackwell Companion to Natural Theology), e formas platônicas e leis de livre flutuação são objetos abstratos, então eu não tenho ideia de que outras causas que transcendem o mundo ele está falando. Se ele pode nos dar esse candidato, eu vou adicioná-lo à lista dos a serem considerados, mas eu ainda não vi esse candidato ser sugerido, muito menos um que seja mais plausível do que uma mente transcendente.

Finalmente, não posso resistir a dizer algo em resposta a avaliação dele do meu apelo ao teorema Borde-Guth-Vilenkin como evidência para o início do universo. Eu tive que sorrir por ele ter escrito pessoalmente para Vilenkin para verificar isso. Tantas pessoas já fizeram isso, e Vilenkin continua reafirmando o que ele disse, de modo que eu me pergunto se ele está ficando irritado com estes inquéritos repetidos ou agradece o RP que dei a ele entre as massas populares! O blogueiro diz-nos que Vilenkin diz da minha caracterização:

Isto é preciso. Mas note que o teorema assume que o universo estava em expansão média no passado. A conclusão pode ser evitada se o universo estava se contraindo antes da expansão. Mas universos se contraindo têm seus próprios problemas. Eles são altamente instáveis, de modo que a contração não é provável de ser seguida por uma expansão (que nós agora observamos).

Contrariamente ao nosso blogueiro, não havia nada de enganoso na minha caracterização do teorema, no meu discurso de abertura, eu disse,

Em 2003, Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin foram capazes de provar que qualquer universo que tem, em média, se expandido ao longo de sua história não pode ser infinito no passado, mas deve ter um limite de espaço-tempo passado. O que faz a sua prova tão poderosa é que ela se mantém independentemente da descrição física de um universo muito antigo. Porque nós ainda não temos uma teoria quântica da gravidade, não podemos ainda fornecer uma descrição física da primeira fração de segundo do universo. Mas o teorema Borde-Guth-Vilenkin é independente de qualquer descrição física daquele momento. O teorema deles implica que o estado de vácuo quântico que pode ter caracterizado o início do universo não pode ser eterno no passado, mas deve ter tido um começo absoluto. Mesmo que o nosso universo seja apenas uma pequena parte de um chamado "multiverso" composto por muitos universos, o teorema deles requer que o próprio multiverso deve ter um começo absoluto.

É claro, cenários altamente especulativos, como os modelos de gravidade quântica em círculo, modelos de cordas, até mesmo os de curvas fechadas como do tempo, têm sido propostas para tentar evitar este início absoluto. Estes modelos são cheios de problemas, mas, no final das contas, nenhuma dessas teorias, mesmo se forem verdade, conseguem restaurar um passado eterno. Na primavera passada em uma conferência em Cambridge, celebrando o 70º aniversário de Stephen Hawking, Vilenkin entregou um documento intitulado "O Universo teve um começo?", que passou pela cosmologia atual com relação a essa pergunta. Ele argumentou que "nenhum desses cenários pode realmente ser eterno no passado”.1 Ele concluiu: "Todas as evidências que temos diz que o universo teve um começo".2

Confio que seja evidente que tenho dado uma sucinta e precisa caracterização do teorema e suas implicações. Por outro lado, o nosso blogueiro erroneamente pensa que o teorema se aplica apenas aos modelos inflacionários, o que é impreciso, como o artigo acima referenciado mostra. Além disso, os modelos que não cumprem a única condição do teorema são repletos de outros problemas, como Vilenkin mostra, o que impede que sejam eternos no passado.

Então ao invés de "enganosa", o blogueiro deveria ter apreciado a minha apresentação do teorema Borde-Guth-Vilenkin como "Acertando em Cheio."



Notas:

1 Audrey Mithani e Alexander Vilenkin, “Did the universe have a beginning?” [O Universo Teve um Começo?]ArXiv 1204.4658v1 [hep-th] 20 Abril 2012.Veja sua declaração "Não existem modelos neste momento que fornecem um modelo satisfatório para um universo sem um começo" (A. Vilenkin, “Did the Universe Have a Beginning?”[O Universo Teve um Começo?]palestra na Cambridge University, 2012). Especificamente, Vilenkin fechou a porta em três modelos que tentam evitar a implicação de seu teorema: inflação eterna, um universo cíclico, e um universo "emergente" que existe para a eternidade como uma semente estática antes de se expandir.

2 Citado em Lisa Grossman, “Why physicists can't avoid a creation event,” [Porque cientistas não conseguem evitar um evento de criação]New Scientist 11 Janeiro 2012.

- William Lane Craig