back
05 / 06
bird bird

#363 Valores Morais Podem ser Fundamentados em Deus?

May 16, 2015
Q

Neste site você diz: "Na maioria das teorias do Comando Divino*, Deus possui Suas qualidades morais essencialmente (na verdade, isso é exatamente o que significa dizer que elas são parte de Sua natureza!). Portanto, não existe um mundo possível em que Deus não é amável, imparcial, gracioso, amoroso, e assim por diante. Então, eu não acho que é possível que Deus seja Alá, pois Alá não é todo-amoroso e imparcial."

Essencialmente você argumenta que Alá não pode ser Deus com base em Sua imoralidade. Mas será? Segue, portanto, que se Alá FOSSE Deus, qualquer que seja a moral que ele tem SERIA a moralidade perfeita. A lista que você oferece de "amável, imparcial, gracioso ..." pode ser a moral que acredita-se que o Deus cristão tenha, mas dizer que QUALQUER Deus precisaria ter essas qualidades é petição de princípio.

A única maneira que você pode argumentar que QUALQUER Deus moral TERIA que ter essas qualidades é se elas são morais transcendentalmente perfeitas com ou sem Deus. Em outras palavras, Deus tem essas qualidades porque elas são perfeitas, elas não são perfeitas porque ele as tem? Se for esse o caso, então elas seriam morais perfeitas mesmo em um universo sem Deus, e um Deus não pode ser usado para explicá-las.

Andrew

Reino Unido

  • Malta

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Sua objeção à Teoria do Comando Divino, Andrew, parece ser que, se valores morais são baseados em Deus, então seria o caso de que se um ser moralmente defeituoso fosse Deus, então seu caráter defeituoso determinaria o bem. Mas é impossível que haja bens diferentes do que há. A única maneira de garantir a necessidade dos bens que existem é se os valores morais são qualidades transcendentes não baseadas em Deus.

Agora eu espero que você possa ver que existem algumas lacunas ou saltos neste argumento. Considere, por exemplo, a afirmação de que decorre de basear valores morais em Deus que:

1. Se um ser moralmente defeituoso fosse Deus, então seu caráter defeituoso determinaria o bem.

O problema, Andrew, é que (1) é uma condicional contrafactual com uma cláusula antecedente impossível. Tais contrafactuais são normalmente tratadas como não tendo qualquer valor de verdade não-trivial. (1) é análoga à afirmação:

2. Se um círculo fosse um quadrado, teria quatro cantos.

Uma vez que a cláusula antecedente é logicamente impossível, (2) é, na melhor das hipóteses, trivialmente verdadeira; isto é, é também verdadeiro no mesmo sentido que

2 *. Se um círculo fosse um quadrado, ele não teria quatro cantos.

Espero que você possa ver que será inútil tentar gerar qualquer argumento significativo com base em tais premissas trivialmente verdadeiras. Pois também será verdade que:

1 *. Se um ser moralmente defeituoso fosse Deus, então seu caráter defeituoso não poderia determinar o bem.

O que você está imaginando é logicamente absurdo; não existe um mundo possível em que um ser moralmente defeituoso seja Deus ou um círculo seja um quadrado. Então nenhuma verdade não-trivial decorre dela.

Agora eu acho que existem algumas contrafactuais com antecedentes impossíveis que são não-trivialmente verdadeiras. Mas você não deu alguma razão para pensar que o teórico do Comando Divino está comprometido com a verdade não-trivial de (1) ou (1*). Você vê que aqui há uma lacuna ou salto em seu argumento?

Mas vamos conceder, para o bem do argumento, que o teórico do Comando Divino está comprometido com a verdade não-trivial de (1). O que segue a partir disso? Você diz que é impossível que haja diferentes bens do que há. Bem, é claro! Mas já estamos teorizando sobre o logicamente impossível ao entreter o antecedente de (1). Então e se uma impossibilidade fosse resultar de uma impossibilidade? Depois de entreter a possibilidade de círculos quadrados, dificilmente você pode puxar para trás agora, e se queixar que os círculos não podem ter cantos! Eu espero que você possa ver que aqui está mais um salto em seu argumento.

Você mesmo parece querer negar a verdade de (1) e acho que a única maneira de fazer isso é rejeitar a moralidade do Comando Divino. Mas o teórico do Comando Divino também pode negar (1), se ele quiser. Porque ele não poderia afirmar:

1 **. Se um ser moralmente defeituoso fosse Deus, então ele teria um caráter diferente do que ele tem.

Com efeito, em tais situações contrafactuais será mais fundamental manter o caráter de Deus constante do que o caráter do ser defeituoso. Então, se o ser defeituoso fosse - per impossible - Deus, ele não seria defeituoso, mas teria o caráter que Deus tem.

Por outro lado, a sua resposta secular não resolve nada. Pois poderíamos com garantia igual reivindicar que no seu ponto de vista, segue que:

3. Se um conjunto diferente de valores morais transcendentes existisse, então não haveria diferentes bens do que há, por exemplo, o abuso de crianças poderia ser bom.

Não vai ser de qualquer proveito você protestar que é impossível que haja um conjunto diferente de valores morais transcendentes. Pois as cláusulas antecedentes tanto de (1) quanto de (3) nos convidam a imaginar situações logicamente impossíveis e perguntar o que se segue. Assim como você afirmou que o teórico do Comando Divino está comprometido com a verdade não-trivial de (1), assim ele pode, com igual justiça, reivindicar que você está comprometido com a verdade não-trivial de (3). Seu tiro saiu pela culatra.



* [o termo “Comando Divino” é usado de forma intercambiável como “teoria do(s) Mandamento(s) Divino(s)” em diferentes partes deste site e em outros lugares].

- William Lane Craig