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#310 Trans-humanos, Imortalidade e Zumbis

May 16, 2015
Q

Caro Dr. Craig,

Eu realmente aprecio o sacrifício de tempo e energia que exige o seu trabalho acadêmico e debates. Mais importante do que isso, eu admiro a sua coragem em partilhar o seu testemunho cristão! Isso me ajuda a ver acadêmicos proeminentes apegando-se à fé.

Agora, para o ponto. Eu estudo bioética e fui recentemente convidado a pensar sobre as perspectivas pós-humanas e trans-humanistas sobre a morte como um mal que deve ser erradicado. Se olharmos para os avanços na genética, nanotecnologia e inteligência artificial, parece provável que seremos capazes de estender muito a vida humana nas próximas décadas. Eu estou querendo saber se você poderia comentar sobre 1) as implicações de um tempo de vida indeterminado; ou seja, se não fôssemos morrer, como seria para entrar no céu? 2) Supondo que a pesquisa em neurociência continue em ritmo acelerado e que seremos capaz de fazer upload de nossa mente em um substrato não biológico, e habitar esse espaço por tempo indeterminado, quais seriam as implicações para um cristão que acredita que a vida eterna só existe depois? 3) Finalmente, à medida que seres humanos continuam a se fundir com a tecnologia em novas formas e as linhas ficam tênues entre o que constitui um ser humano e pessoa não-humana, o que é que o cristianismo tem a dizer para ou sobre essas novas entidades?

Obrigado novamente!

Kyle

Estados Unidos

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Dr. Craig

Dr. craig’s response


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Kyle, parece-me que aqueles que adotam perspectivas trans-humanistas em uma tentativa de alcançar a imortalidade estejam fazendo nada mais do que chutar a lata pela estrada. Eles parecem ser alegremente ignorantes das implicações da escatologia física.

A escatologia (o estudo das últimas coisas) não é mais exclusivamente assunto da teologia, mas tem no último meio século, mais ou menos, surgido como um novo ramo da cosmologia (estudo da estrutura em larga escala e história do universo), sendo uma espécie de imagem de espelho da cosmogonia, aquele ramo da cosmologia que estuda a origem do universo. Não que o futuro do universo se assemelhará ao seu passado; longe disso. Mas, assim como cosmogonia física olha para trás no tempo para retrodizer a história do cosmos com base em vestígios do passado e as leis da natureza, assim a escatologia física olha pra frente no tempo para prever o futuro do cosmos baseado em condições presentes e as leis da natureza.

A Escatologia física pinta um quadro muito deprimente do futuro em contraste com a escatologia teológica. O cenário mais provável com base em evidências científicas atuais é que o universo continuará a se expandir para sempre. Ao isso acontecer, as estrelas eventualmente queimam e as galáxias ficam escuras. Cerca de 1015 anos após o Big Bang a maior parte da massa bariônica do universo será composto de objetos estelares degenerados como anões marrons, anões brancos, estrelas de nêutrons e buracos negros. A Física de partículas elementares sugere que em cerca de 1037 anos os prótons irão decair para elétrons e pósitrons, preenchendo o espaço com um gás rarefeito tão fino que a distância entre duas partículas vai ser do tamanho da presente galáxia. Em cerca de 10100 anos, no início da chamada Era Escura, os próprios buracos negros podem ter evaporado. A massa do universo vai ser nada além de um gás frio e fino de partículas elementares e radiação, ficando cada vez mais diluído a medida que se expande na escuridão infinita, um universo em ruínas.

Obviamente, o transplantar peças sintéticas em seres humanos não faz nada para evitar a extinção definitiva. Imortalidade trans-humana é uma esperança vã. Cada um de nós acabará encontrando seu Criador.

Mas não vamos ter de esperar até a extinção da vida do universo. Pois na visão cristã Deus vai trazer o fim da história humana e do cosmos atual no momento em que Ele julgar conveniente (Mc 14:32; Mt. 24:43; 1 Ts 5:2; Hb 1:10-12;. 2 Pe 3:10; Apo. 3:3). Ele não permitirá que eventos previstos com base nas tendências atuais do futuro relativamente próximo, como a extinção da raça humana, ocorram, muito menos eventos no futuro incrivelmente distante, como a extinção estelar ou decaimento do próton. Antes desses eventos ocorrerem Deus vai agir para encerrar a história humana e inaugurar um novo céu e uma nova terra (1 Cor 15:51-52; 1Ts 4:15-17; Apo. 21:1). Quando Cristo voltar, qualquer trans-humano por aí será levado junto com os seres humanos.

Quanto ao significado teológico de humanos terem partes não-naturais, é difícil para mim ver qualquer significado mais para isso do que uma pessoa tendo um dispositivo protético. Isso é porque eu não acho que a pessoa humana seja idêntica ao seu corpo. A pessoa humana é uma alma encarnada. Portanto, enquanto o indivíduo deixa a alma intacta, não pode haver significado último à mudança corporal. A pergunta, eu acho, é se nós não poderemos produzir mudanças no corpo que seriam tão significativas que efetivamente separariam a alma do corpo. Isso simplesmente seria a morte daquela pessoa humana. Qualquer organismo que continuou a viver depois de tal mudança seria um zumbi.

- William Lane Craig