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#279 Ter Propriedades é um Critério para a Existência?

May 13, 2015
Q

Caro Dr. Craig,

Em seu post mais recente, você escreveu: "Eu estou inclinado a dizer que ... propriedades não existem na realidade".

No entanto, se ter propriedades é um critério necessário para existir, então, segue que:

1. Se algo existe, tem uma ou mais propriedades.

2. Se Deus existe, Ele tem uma ou mais propriedades.

3. Propriedades não existem.

4. Deus não tem propriedades.

5. Deus não existe.

É claro que eu não aceito a premissa de que as propriedades não existem, então eu não chegaria ao ateísmo. Mas já que você nega a existência das propriedades, você não está negando a existência de Deus? Na verdade, você estaria negando a existência de todas as coisas, o que é um absurdo, pois, com certeza você deve existir para negar qualquer outra coisa.

Então eu só posso concluir que a sua ideia de existência não requer ter propriedades. Se é assim, que critérios constituem a existência?

Além disso, eu espero que você tenha uma resposta melhor do que apenas dizer que as propriedades são "ficções úteis". Eu não vejo como uma coisa fictícia pode constituir um critério para a existência. Pode-se também recorrer a um "blark" como um dos critérios para a existência. Minha intenção não é ser sarcástico, porque eu tenho o maior respeito por você e seu trabalho. No entanto, acho que a sua negação de propriedades altamente problemática. Parece mais razoável aceitar a realidade das propriedades, mas redefini-las, se necessário, de uma forma que não apela para o platonismo.

Finalmente, eu percebo que ter propriedades como critério para a existência levanta um problema de regressão infinita (se existe uma propriedade, a propriedade tem uma propriedade? E será que sua propriedade, dela, tem uma propriedade, ad infinitum?), Mas parece que todos os critérios que sugerirmos vai cair no problema da auto-referência.

Frank

Estados Unidos

  • United States

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

A resposta à sua pergunta, Frank, depende de quão sério você é, metafisicamente, ao falar sobre propriedades. No nível metafisicamente leve do discurso comum, é claro que as coisas têm propriedades. Eu tenho as propriedades de ter um certo peso, de ser casado, de ser caucasiano, de ser de uma certa idade, etc. Falar de propriedade neste sentido leve é apenas outra maneira de dizer que eu tenho um determinado peso, que sou casado, que eu sou caucasiano, etc. Esse tipo de conversa não deve ser revestido de significado metafísico. Que isto é assim é evidente pelo fato de que mesmo as coisas que não existem (exceto, mais uma vez, em um sentido metafisicamente leve!) também podemos dizer que têm propriedades. Por exemplo, o furo na minha camisa tem as propriedades de ter um determinado diâmetro e um determinado local; mas eu não acho que, além da minha camisa, há outra entidade, ou seja, o buraco. Quarta-feira tem a propriedade de ser entre terça-feira e quinta-feira, mas eu não acho que uma realidade socialmente construída como quartas-feiras realmente existem. Falar de propriedade comum é apenas uma façon de parler [maneira de falar] a partir da qual não devemos tirar conclusões metafísicas grandiosas.

Mas suponha que um dia no seminário de metafísica, alguém pressiona você, "Ah, então você acredita que as propriedades realmente existem! Então me diga, como é que estes objetos causalmente eficientes existentes além do espaço e do tempo fazem qualquer diferença para nós?" De repente, você pode querer se afastar da sua palestra sobre propriedades ou explicar que essa conversa não é para ser levada a sério metafisicamente.

O famoso filósofo Rudolf Carnap fez uma distinção fundamental aqui que muitos acharam útil. Carnap distingue entre o que ele chamou de "perguntas internas", isto é, perguntas sobre a existência de certas entidades colocadas dentro de uma determinada estrutura lingüística, e "perguntas externas", isto é, perguntas sobre a existência dessas entidades colocadas de um ponto de vista fora daquela estrutura.1 Carnap ilustra sua distinção ao apelar ao que ele chama de a estrutura lingüística"coisa". Uma vez que nós adotamos a linguagem de coisa de um sistema ordenado espaço temporalmente de coisas observáveis, podemos significativamente levantar questões internas como "Quantas coisas estão lá na minha mesa?" ou "Será que a Lua é uma coisa?" Tais perguntas internas devem ser distinguidas da pergunta externa da realidade das coisas. Alguém que rejeita a referência a coisa pode escolher uma referência em que se fala, não de coisas, mas de eventos ou simplesmente de dados sensoriais.

Carnap também aplica a sua distinção a estruturas lingüísticas envolvendo terminologia para objetos abstratos como os números, proposições, e propriedades. Considere, por exemplo, a estrutura lingüística da matemática. Dentro dessa referência, seria absurdo negar que existe um número par igual a 2 + 2. Mas quando o metafísico pergunta: "Existem os números?",ele está fazendo uma pergunta externa, e não uma pergunta interna.

Por isso, considere a estrutura lingüística de conversas de propriedade. Uma vez que se adotou tal fala de propriedade, responder à pergunta se eu tenho a propriedade da pesagem de 160 libras é apenas uma questão de pisar na balança. Essa conversa de propriedade interna não comete alguém quanto à pergunta externa se as propriedades existem.

Agora, com essa distinção em mente, considere o seu argumento. O problema é que ele vacila entre falar sobre as propriedades a partir de uma perspectiva interna e falar sobre as propriedades de uma perspectiva externa. No que diz respeito à sua primeira premissa

1. Se algo existe, tem uma ou mais propriedades.

Eu concordaria quando se fala no âmbito lingüístico de conversa de propriedade. Mas, então, na premissa (3)

3. Propriedades não existem.

você mudou para conversa metafisicamente pesada de um ponto de vista fora da referência! A partir desse ponto de vista externo, a primeira premissa não é verdadeira.2 Coisas não têm propriedades, porque não existem propriedades. Obviamente, isso não implica, por exemplo, que é falso que eu peso 160 libras, sou casado, sou caucasiano, etc.

Então, na premissa (4)

4. Deus não tem propriedades.

você reverte para falar dentro da referência lingüística de conversa de propriedade. Pois a partir de uma perspectiva externa (4) é inquestionável. Deus é onipotente, onisciente, onipresente, e todo o resto sem estar em alguma relação misteriosa de exemplificação para objetos abstratos além do espaço e do tempo que servem de alguma forma para torná-Lo como Ele é.

Suponho que esta é apenas uma maneira indireta de dizer que seu argumento parece ser culpado da falácia do equívoco.

Então, qual é o critério para existência? Observe que não é preciso ter uma resposta para esta pergunta para ver onde o seu argumento está errado. Mas o concretista, isto é, alguém que acredita que apenas objetos concretos existem tem uma resposta pronta para a sua pergunta. Visto que o que serve para distinguir objetos abstratos de objetos concretos na visão da maioria dos filósofos é que objetos abstratos são essencialmente causalmente impotentes, segue que a potência causal é o critério do que existe. Isso nos fornece um critério claro para o que existe que não envolve quaisquer problemas de auto-referência, tanto quanto eu posso ver.

Agora, se você quiser redefinir propriedades de tal forma que elas não sejam objetos abstratos, você é bem-vindo a fazê-lo. É o platonismo que eu acho teologicamente censurável. Mas, então,você vai precisar enfrentar as objeções filosóficas de pensadores como o meu colega J. P. Moreland a todas essas interpretações empiricistas de propriedades.3



Notas

1 Rudolf Carnap, “Meaning and Necessity:” A Study in Semantics and Modal Logic (Chicago: University of Chicago Press, 1956), p. 206. Como verificacionista, Carnap pensava que perguntas externas são sem sentido, mas os filósofos contemporâneos que acham sua distinção útil pensam diferente dele a esse respeito. Tais perguntas metafísicas são tanto significativas quanto importantes.

2 Na verdade, de um ponto de vista externo, eu diria que o contrário de (1) é verdade:

1´. Se algo tem um ou mais propriedades, então aquela coisa existe.

É por isso que eu não sou um neo-Meinongiano (do filósofo austríaco Alexius Meinong). Neo-Meinongians acreditam que não-entidades têm propriedades, o que me parece metafisicamente absurdo.A ideia de que apenas coisas existentes têm propriedades é chamado de "atualismo sério." É claro, eu acho que o antecedente de (1') é falsa, para que ter propriedades é condição suficiente, mas não uma condição necessária da existência.

3 J. P. Moreland, Universals, Central Problems of Philosophy (Chesham, England: Acumen, 2001).

- William Lane Craig