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#263 Stephen Law sobre a não existência de Jesus de Nazaré

May 10, 2015
Q

Em seu blog, o filósofo ateu Stephen Law formulou o seguinte argumento cético contra a existência de Jesus:

1. Declarações extraordinárias exigem evidência extraordinária. Na ausência de evidência extraordinária, existem excelentes razões para ser cético sobre as declarações.

2. Não existem evidências extraordinárias para as coisas divinas/miraculosas nos documentos do NT.

3. Portanto (de 1 e 2), existem excelentes razões para ser cético sobre aquelas declarações extraordinárias.

4. Se testemunho/documentos combinam declarações comuns e extraordinárias, e existem excelentes razões para ser cético sobre as declarações extraordinárias, então existem boas razões para ser cético até mesmo sobre as declarações comuns, pelo menos até possuirmos boas evidências independentes de sua verdade.

5. Os documentos do NT combinam declarações comuns e extraordinárias sobre Jesus.

6. Não existem boas evidências independentes até mesmo para as declarações comuns sobre Jesus (tal como de que ele existiu).

7. Portanto, (de 3, 4, 5, e 6), existem boas razões para ser cético se Jesus existiu.

Gostaria de saber sua opinião sobre este argumento. Acho que uma série de premissas são problemáticas, tanto filosófica quanto historicamente. Por exemplo, a premissa 6 parece ser falsa sob fundamentos puramente históricos (fontes independentes, até mesmo fora do NT, atestam a crucifixão de Jesus, o que implica sua existência. E certamente a crucifixão é uma declaração "comum" no tempo de Jesus).

Felicidades, Mary

Venezuela

  • Venezuela

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Você irá lembrar-se que esta questão surgiu um pouco antes do meu debate com Stephen Law no Central Hall, Westminster, no último outubro. Em resposta á afirmação de que "Dr. Law tem recentemente defendido a declaração de que Jesus de Nazaré nunca existiu," Law respondeu o seguinte:

Law: Eu nunca disse, a propósito, nunca argumentei que Jesus não existe.

Craig: Não, eu disse que você defendeu a declaração. Eu fui cuidadoso sobre isso.

Law: Que Jesus não existe?

Craig: Que - eu disse que você defendeu a declaração que - algo parecido com - Jesus de Nazaré não existiu.

Law: Não.

Craig: Em seu argumento, em seu artigo no Faith and Philosophy,1 você dá um argumento de sete pontos –

Law: Sim...essa não é a minha ideia. Minha ideia é - O argumento que eu dei naquele artigo no periódico, Faith and Philosophy, era que parece que existe uma boa defesa filosófica para permanecer neutro. Quero dizer, nós simplesmente não podemos ter certeza nem de um lado nem de outro, e isso não é nem um pouco igual a defender a visão que Jesus não foi um indivíduo histórico.

Craig: Está certo! Então agnosticismo sobre a realidade de Jesus... Está certo!

Mesmo que posição final de Law seja o agnosticismo sobre a existência de Jesus - esta mesma sendo uma posição indefensável -, é evidente que seu agnosticismo é baseado no sucesso do argumento acima para ser cético que Jesus algum dia existiu.

Quando eu encontrei seu artigo pela primeira vez em minha preparação para o debate, meu primeiro pensamento foi que somente um periódico filosófico publicaria tal artigo! Este artigo nunca teria passado no processo de avaliação em um periódico para estudos do Novo Testamento ou histórico. Até mesmo céticos radicais como Bart Ehrman derrubam os chamados "místicos" que dizem que não temos boa evidência de que Jesus de Nazaré foi uma pessoa real:

Poucos destes místicos são realmente estudiosos formados em história antiga, religião, estudos bíblicos ou qualquer campo cognato, e muito menos nas línguas antigas geralmente consideradas importantes para aqueles que querem dizer alguma coisa com algum grau de autoridade sobre um mestre judeu que (alegadamente ) viveu no primeiro século na Palestina... Mas, mesmo levando isso em conta, não há um único místico que ensina Novo Testamento ou cristianismo primitivo, ou mesmo os clássicos em qualquer instituição acreditada de ensino superior no mundo ocidental. E isso não é de se admirar. Estes pontos de vista são tão extremos e tão pouco convincentes para 99,99 por cento dos verdadeiros especialistas que qualquer pessoa os defendendo, tem a mesma probabilidade de conseguir um emprego de professor em um departamento estabelecido de religião, quanto a probabilidade de um criacionista de seis dias aterrisar em um bom departamento de biologia.2

O argumento de Law para ceticismo sobre Jesus não seria levado a sério por reconhecidos estudiosos de história.

Não é de admirar! Quase todas as premissas deste argumento não têm justificações ou são falsas. Tome (1), por exemplo:

1. Alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias.

Isso soa tanto como senso comum, não é? Mas, na verdade, é comprovadamente falso. Os teóricos de Probabilidade que estudam que tipo de evidência seria necessária para estabelecer um evento altamente improvável, vieram a perceber que, se você apenas pesar a improbabilidade do evento contra a confiabilidade do testemunho, nós teríamos que ser céticos em relação a muitas reivindicações comumente aceitas. Em vez disso, o que é crucial é a probabilidade de que nós termos a evidência que temos se o evento extraordinário não tivesse ocorrido.3 Isso pode facilmente compensar qualquer improbabilidade do próprio evento. No caso da ressurreição de Jesus, por exemplo, isso significa que também temos de perguntar: "Qual é a probabilidade de os fatos do túmulo vazio, as aparições pós-morte, e a origem da crença dos discípulos na ressurreição de Jesus, se a ressurreição não tivesse ocorrido? "É muito, muito, muito, improvável que teríamos estas evidências se a ressurreição não tivesse ocorrido.

E quanto a (2)? Suponho que depende do que você entende por "extraordinário". Mas as evidências para os fatos do túmulo vazio, aparições post-mortem (pós-morte) de Jesus, e a origem da crença dos discípulos é tal que a maioria dos estudiosos, até mesmo os críticos radicais como Ehrman, estão convencidos de sua historicidade. Além disso, não há nenhuma teoria naturalista proposta como uma explicação sobre estes três fatos que já tenha recebido a adesão de um número significativo de estudiosos. Portanto, a evidência para o milagre central do Novo Testamento é bastante extraordinária, mesmo que, como mencionado acima, não seja um pré-requisito para o veredicto da historicidade.

A Premissa (4) tem pouca coisa para elogiar, eu suspeito. Podemos ser cautelosos em tais casos, mas céticos? Lendas misturam reivindicações históricas com maravilhas não-históricas, e a presença das maravilhas não implica que devemos rejeitar a historicidade das reivindicações comuns.

Mas a premissa (6) é a mais obviamente falsa no argumento.Com relação às evidências extra-bíblicas, Law está simplesmente mal informado. Jesus é mencionado em fontes antigas como Tácito, Josefo, Mara bar Serapion, e fontes rabínicas judias. Se você estiver interessado em ler estes, Robert Van Voorst coletou estas fontes em seu livro Jesus outside the New Testament [Jesus fora do Novo Testamento].4 Não há nenhuma razão para pensar que todas essas fontes são dependentes exclusivamente da tradição cristã. Por exemplo, de acordo com Van Voorst "o uso de palavras de quase todos os elementos" do texto original de Josefo "indica que Josefo não o retirou, direta ou indiretamente, de escritos cristãos do primeiro século"5

Pior ainda, o que Law não aprecia é que as fontes no próprio NT são muitas vezes independentes uma da outra, de modo que temos evidência independente para muitos dos eventos comuns, para não falar dos milagrosos eventos, da vida de Jesus. São precisamente essas evidências múltiplas, antigas e independentes para muitos dos eventos da vida de Jesus que têm persuadido estudiosos históricos da historicidade de muitos dos eventos nos Evangelhos. Por exemplo, nós temos referências para o sepultamento de Jesus em cinco fontes independentes e indicações quanto à descoberta de seu túmulo vazio em nada menos do que seis fontes independentes, o que é realmente extraordinário.

Mas há mais razões para negar (6):

Princípio da Causa Suficiente: Law diz que Alexandre, o Grande deve ter existido por causa das dinastias militares deixadas em seu rastro. Mas, da mesma forma, Jesus deve ter existido por causa do movimento cristão do primeiro século, deixado em seu rastro. As tentativas de explicar esse movimento mitologicamente falharam.

Vergonha: expectativas messiânicas judaicas não incluíam nenhuma ideia de um Messias davídico que, em vez de expulsar os inimigos de Israel e estabelecer o trono de Davi em Jerusalém, seria vergonhosamente executado por eles como um criminoso. A crucificação de Jesus era algo que a igreja primitiva lutou para superar, e não algo que inventou. A crucificação de Jesus é um dado sobre o qual todos os estudiosos históricos, até mesmo o mais radical, concorda.

Arqueologia: Law aceita a historicidade de Alexandre, o Grande, em parte por causa da evidência arqueológica para as dinastias que ele fundou. Mas e quanto a Jesus? A Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, tem uma forte reivindicação histórica de ter sido construída sobre o túmulo real de Jesus de Nazaré. Em 326-28 a mãe do Imperador Constantino, Helena, empreendeu uma viagem à Palestina e perguntou onde ficava o túmulo de Jesus. Os moradores apontaram para um local onde um templo de Afrodite tinha ficado por mais de um século. Temos aqui uma tradição muito antiga quanto a localização do túmulo de Jesus, que é visto como provável pelos fatos que (1) o local identificado estava dentro das paredes existentes da cidade, mesmo que o NT diga que estava fora dos muros da cidade. As pessoas não percebem que o local era, na verdade, fora das paredes originais, porque eles não sabiam a localização das paredes originais. (2) Quando Constantino ordenou que o templo fosse demolido e o local escavado, vejam só, eles cavaram e encontraram um túmulo! Mas se esta é a tumba de Jesus, então temos evidências arqueológicas de sua existência.

Em suma, o argumento de Law não é bom. O ceticismo ou mesmo agnosticismo sobre a historicidade de Jesus de Nazaré é infundada. Como Ehrman conclui: "Quer gostemos ou não, Jesus certamente existiu".6



Notas:

1 Stephen Law, “Evidence, Miracles, and the Existence of Jesus,” Faith and Philosophy 28 (2011): 29-51.

2 Bart Ehrman, “Did Jesus Exist?” Huff Post (March 29, 2012); http://www.huffingtonpost.com/bart-d-ehrman/did-jesus-exist_b_1349544.html.O artigo de Ehrman gerou uma réplica enfurecida de Richard Carrier que é digno de nota por sua acidez: http://freethoughtblogs.com/carrier/archives/667. Carrier comete uma série de enganos, que são apontados sobriamente pelo acadêmico de NT da Butler University James McGrath: http://www.patheos.com/blogs/exploringourmatrix/2012/03/responding-to-richard-carriers-response-to-bart-ehrman.html.

3 Veja uma descrição muito boa por S. L. Zabell, “The Probabilistic Analysis of Testimony,” Journal of Statistical Planning and Inference 20 (1988): 327-54.

4 Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans, 2000.

5 Ibid., p. 102; por exemplo, o uso de "Cristo" como um título, não um nome próprio; "homem sábio," "tribo".

6 Ehrman, “Did Jesus Exist?”

- William Lane Craig