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#265 O Princípio Causal

May 10, 2015
Q

Caro Dr. Craig,

Eu queria saber se uma razão plausível para naturalistas rejeitarem a hipótese causal do argumento Kalam é que muitos deles têm um conceito de causalidade em termos de "eventos" e não de coisas.

Isso contrasta com os conceitos aristotélicos e medievais de causas em termos de "coisas" e não de eventos.

No livro acadêmico recentemente publicado "The Oxford Handbook of Causation", o filósofo John Marenbon comenta:

"A maior parte da discussão medieval sobre causalidade nas tradições medievais aristotélicas e neoplatônicas concebe causas como coisas -- na maioria dos casos, substâncias corpóreas (um pai) ou incorpóreas (o Agente Intelecto). Os efeitos das causas são muitas vezes coisas também (por exemplo, o pai é a causa de seu filho), embora causas do movimento também são discutidas" (p. 52).

Como Marenbon explica, "coisas" (não eventos) foram os relata da relação causal.

Mas de acordo com a maioria dos naturalistas contemporâneos (como J.P. Moreland explicou tão bem), eventos (não coisas) são os relata da relação causal, ou seja, somente eventos podem ser causas ou efeitos.

Eu acho que este ponto tem implicações interessantes, já que sua formulação do Kalam, você é explícito que você está falando sobre coisas (não sobre eventos). Na verdade, de forma explícita você escreveu que o princípio de causalidade é totalmente compatível com a existência de eventos sem causa (eventos quânticos, por exemplo).

Como uma vez eu comentei com você em uma carta, Mario Bunge também inclui alguns eventos espontâneos no cérebro (que são supostamente "não-causados"), como prova de que o princípio de causalidade (com respeito a eventos) nem sempre é válido. Mas Bunge concorda com o princípio da causalidade sobre coisas, já que ele acha que o princípio "do nada nada vem" é um princípio básico da metafísica e da ciência.

Não é possível que parte da negação de parte dos naturalistas do princípio da causalidade no argumento Kalam é devida à noção de causas em termos de coisas e não de eventos, que é inerente à sua formulação do argumento Kalam?

Você acha que é possível defender uma versão do Kalam em termos de eventos por si só?

Veja o "The Oxford Handbook of Causation" (Oxford University Press, 2012) para outras discussões sobre teorias filosóficas medievais e contemporâneas de causalidade.

Mary

Venezuela

  • Venezuela

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Mary, este problema foi recentemente trazido à minha atenção por meu amigo Chris Weaver. Teorias contemporâneas de causalidade não pensam em coisas como estando em relações causais, mas eventos ou estados das coisas. Por exemplo, o tijolo atingindo a janela é a causa da quebra da janela. Assim, ao contrário da análise dos medievais, coisas como pessoas ou cavalos ou até mesmo Deus não são causas de outras coisas. O argumento Kalam, como eu o expus, fala de coisas tendo causas, especificamente as coisas que começam a existir, como o universo.

Uma forma de responder a este problema seria a de desafiar a adequação das análises contemporâneas que excluem coisas de serem consideradas causas. Não é preciso negar que eventos ou estados das coisas podem ser causalmente relacionados, mas coisas também são. Eu acho que esta é uma resposta razoável. Eu noto que na brilhante tradução e comentários de Alfred Freddoso do artigo de Francisco Suarez "On Creation, Conservation, and Concurrence" (Metaphysical Disputations20-22),* Freddoso argumenta que o relato de Suarez de causalidade em termos de agentes causais e pacientes é superior a qualquer um das versões contemporâneas da relação causal.

Mas não precisamos desnecessariamente bater de frente também. Pode-se simplesmente reformular o argumento para levar em conta as sensibilidades modernas:

1. Se o universo começou a existir, então o universo tem uma causa para o seu começo.

2. O universo começou a existir.

3. Portanto, o universo tem uma causa para o seu começo.

Nesta formulação o que exige uma causa é um evento, ou seja, o início do universo. A causa será Deus criando o universo, um outro evento.

Como o argumento é tão facilmente reformulado em termos de eventos, eu suspeito que é por isso que ninguém, que eu saiba, contestou o argumento com base no que você menciona.

O argumento, obviamente, não implica que todo o evento tem uma causa. Podemos ainda, se quisermos, apoiar a posição de Bunge, com o qual eu tenho simpatia, ao defender que tudo o que começa a existir tem uma causa para seu início (incluindo partículas virtuais), mas permitindo movimentos ou alterações em coisas já existentes ocorrendo sem causas precisamente pela razão que ele dá.



Notas:

* South Bend, Ind.: St. Augustine’s Press, 2002.

- William Lane Craig