back
05 / 06
bird bird

#378 Necessidade e o Argumento da Contingência

May 16, 2015
Q

Caro Dr. Craig,

Primeiro, eu só quero dizer “muito obrigado por todo o trabalho que você está fazendo”. Seu trabalho tem sido uma grande ajuda para mim na minha vida como cristão e Deus realmente tem lhe usado para fortalecer a minha fé. Nós, na verdade, nos reunimos recentemente em sua classe do “Defenders” quando eu fui visitar Atlanta no fim de semana que você teve laringite. Foi um privilégio falar brevemente com você e eu estou feliz que você esteja se sentindo melhor! Dito isto, eu tenho algumas perguntas sobre os atributos de necessidade e asseidade, especialmente com a forma como eles se relacionam ao argumento cosmológico de Leibniz (doravante ACL). Acho esse argumento extremamente convincente, mas eu gostaria de obter esclarecimentos sobre um aspecto essencial. Na pergunta # 190, você deixa claro que, no contexto da sua formulação do ACL, você não está usando necessidade e contingência no sentido lógico amplo. Em vez disso, você os está usando para se referir a seres que existem por uma necessidade de sua própria natureza e seres que dependem de causas externas para sua existência. Assim, nessa análise, um ser logicamente necessário é considerado contingente se depender de outro ser logicamente necessário para sua existência (como no Criacionismo Absoluto ou conceitualismo com relação a objetos abstratos, por exemplo).

Então, que tipo de modalidade é essa? Ao olhar o material sobre a modalidade, eu não consegui encontrar um termo para o tipo de modalidade utilizado aqui. Em “Filosofia e Cosmovisão Cristã”, você define seres necessários e seres contingentes, dizendo: "Nesta análise." Isto está sugerindo que a utilização das palavras necessário e contingente, neste contexto, são peculiares a este argumento?

Além disso, não posso deixar de notar vários lugares do argumento onde ele parece usar contingência e necessidade no sentido lógico amplo, e não no sentido definido no argumento. Um exemplo é quando você lida com a objeção de Bede Rundle que, apesar de nenhum ser existir necessariamente, é necessário que algum ser contingente ou outro exista. Você destaca que isso equivale a uma negação do princípio da razão suficiente, e que ele postula a existência de contingentes brutos em todos os mundos possíveis. Isso parece estar usando um sentido lógico amplo de necessidade e contingência, em vez do descrito acima. Além disso, no âmbito da discussão sobre a contingência do universo, você apela para a nossa intuição de um mundo possível sem objetos concretos e um mundo possível em que um conjunto diferente de partículas fundamentais existe a fim de estabelecer a contingência do universo. Isso também parece estar usando um sentido lógico de modalidade, já que parece identificar contingência com existir em alguns, mas não em todos os mundos possíveis, e não apenas sendo dependente de causas externas para a existência de algo. Sem dúvida, um ser logicamente contingente estará condicionado no sentido descrito pelo argumento, mas essas palavras estão sendo usadas de maneira inequívoca durante todo o argumento?

Ao refletir sobre os seus escritos sobre asseidade divina, porém, ocorreu-me que os tipos de seres descritos em sua versão do Principio de Razão Suficiente (PRF) são muito parecidos com os seus conceitos de seres que existem a se e os seres que existem ab alio. Se eu entendi asseidade corretamente, ela é a propriedade de auto-existência e independência de todos os outros seres ou causas externas. Isso soa para mim muito como um ser que existe por uma necessidade de sua própria natureza. Em seu artigo "Timothy O'Connor on Contingency: A Review on Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency," [Timothy O'Connor sobre a Contingência: Uma Revisão sobre o Teísmo e a Explicação Final: A Forma Necessária de Contingência], você diz "Precisa ser lembrado que, quando O'Connor fala de um ser necessário, ele quer dizer um ser que existe não só necessariamente, mas a se (p. 155, n. 7), de modo que seres que são necessários ab alio não entram em cena". Isso sugere que os seres necessários da sua versão do argumento devem ser identificados como seres que são logicamente necessários a se e que seres contingentes devem ser identificados tanto como seres logicamente contingentes (que existem ab alio) quanto seres que são logicamente necessários ab alio, ou estou entendendo mal os conceitos aqui? E se for esse o caso, você acha que o argumento deve ser reformulado, em termos de asseidade ou em termos de modalidade lógica ampla que é qualificada se os seres existem ou não a se ou ab alio?

Muito obrigado por considerar a minha pergunta e Deus o abençoe!

Matt

Estados Unidos

  • United States

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Obrigado por esta pergunta tão inteligente, Matt! Fico feliz que você conseguiu nos visitar na classe Defenders.

Para aqueles que não têm o seu conhecimento prévio, vamos colocar o argumento cosmológico de Leibniz sobre a mesa aqui:

1. Tudo o que existe tem uma explicação para sua existência (tanto na necessidade de sua própria natureza ou em uma causa externa).

2. Se o universo tem uma explicação para sua existência, essa explicação é Deus.

3. O universo existe.

4. Portanto, o universo tem uma explicação para sua existência.

5. Portanto, a explicação da existência do universo é Deus.

Como você, eu acho este argumento muito poderoso.

Agora a sua pergunta lida com a maneira que as propriedades de necessidade e asseidade aparecem neste argumento. Como você corretamente observa: um ser que existisse em todo o mundo amplamente logicamente possível existiria necessariamente, mas se tem uma causa, então ele não existe por uma necessidade de sua própria natureza. Paradoxalmente, existe necessariamente, mas de forma contingente. Digo "paradoxalmente", porque não há contradição aqui. Por "contingente" neste contexto, se quer dizer "dependente". Criacionistas absolutos, por exemplo, diriam que objetos matemáticos existem desta maneira: eles são criados por Deus em todos os mundos possíveis e assim existem necessariamente, apesar de dependerem de Deus para sua existência. Eles existem necessariamente, mas eles não são auto-existentes.

Agora, a sua primeira pergunta diz respeito ao tipo de modalidade em jogo aqui. Esta distinção entre a existência necessária e a auto-existência é aquela que geralmente surge em um contexto teísta e tem sido observado por outros teístas. Não há uma terminologia padrão para este tipo de modalidade. Mas, curiosamente, os pensadores medievais como Tomás de Aquino fizeram distinção entre algo que é "necessário em si mesmo" (per se necessarium) e algo que tem "uma causa de sua necessidade em outro" (causam suae necessitatis aliunde) (Summa Theologiae 1.2.3). A metafísica Modal hoje precisa de algumas dessas categorias para fazer jus, não apenas a este argumento, mas, como nos casos de criacionismo absoluto e conceitualismo também ilustram, às sutilezas envolvidas em fazer metafísica modal.



Agora, quando você lembra que a necessidade per se (para usar a terminologia de Tomás) implica a velha e simples necessidade, você pode ver que se um ser não tem nem mesmo necessidade, então ele também não tem necessidade per se! Então, quando Bede Rundle afirma que existem seres contingentes em todos os mundos mas que não existe nenhum ser necessário, ele está usando o "necessário" e "contingente" no sentido usual, e é bom ressaltar que em sua opinião não há explicação para o porquê estes seres contingentes existem.

Da mesma forma, se eu pudesse mostrar que o universo não existe sequer necessariamente, então certamente não existe necessariamente per se. Ou seja, se pudesse mostrar que o universo existe contingentemente em um sentido lógico amplo, então ele certamente não existiria necessariamente per se.

Eu sinceramente concordo com você que a distinção que estamos tentando tirar é sinônima com a distinção entre uma coisa existindo a se (por si mesmo) versus existindo ab alio (através de outro). (Mais uma vez, podemos agradecer os medievais por esta terminologia.) Então você está certo em identificar um ser que existe por uma necessidade de sua própria natureza com um ser que tem a propriedade de asseidade - que é o assunto da minha pesquisa atual! Então você está certo em dizer que a premissa (1) do argumento de Leibniz distingue entre dois tipos de seres: aqueles que são auto-existentes (tem existência a se) e os que existem através de outro (tem existência ab alio). Aquelas coisas que existem ab alio podem existir de forma amplamente logicamente contingente (em apenas alguns mundos possíveis) ou de forma amplamente logicamente necessária (em todos os mundos possíveis):

I. Existência a se

II. Existência ab alio

A. Existência amplamente logicamente contingente

B. Existência amplamente logicamente necessária

Então se eu "acho que o argumento deve ser reformulado, quer em termos de asseidade ou em termos de modalidade lógica ampla que é qualificada se os seres existem ou não a se ou ab alio?" Não; o argumento já é difícil o suficiente para as pessoas entenderem, e introdução de tal terminologia serviria apenas para torná-lo mais confuso. Melhor fazer os esclarecimentos para os cognoscendi em uma Pergunta da Semana!

- William Lane Craig