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#260 Deus, Tempo e Criação

May 10, 2015
Q

Dr. Craig,

Obrigado por todo o seu trabalho acadêmico em defesa da Fé e expansão do Reino de Deus.

Sou um pastor jovens, ensinando meus alunos a essência da doutrina cristã a cada domingo pela manhã, e tenho gostado de cada minuto disso, eles também estão aprendendo e gostando.

Como material, eu tenho tentado utilizar os seus podcasts do Defenders sobre a doutrina cristã, assim como diversas outras obras de teologia sistemática e doutrina para a minha aula, a fim de criar guias de estudo e materiais para ajudá-los a lidar melhor com suas preocupações teológicas e filosóficas. Terminamos a Doutrina da Revelação e agora estamos na semana 4 sobre a Doutrina de Deus.

Na doutrina de Deus, eu cheguei na relação de Deus com o tempo e eternidade e queria ver se você poderia abordar algumas preocupações que estão surgindo. Eu encontrei uma pedaço de um certo livro de teologia sistemática que afirma,

"É [...] digno de notar que é [...] incoerente falar de Deus como sendo eterno antes da criação e temporal após a criação. Para um teísta, a criação do mundo não modifica a natureza de Deus. O mundo não é criado ex deo ('a partir de Deus'); isso seria panteísmo. E para o teísmo, o mundo foi criado ex nihilo ('a partir do nada'). Consequentemente, Deus não se modifica 'internamente,' isto é, em Sua essência, ao criar alguma coisa. A única coisa que muda é 'externa,' o relacionamento do mundo com Ele. Antes da criação, o mundo não tem um relacionamento com Deus, já que não existia. Na criação e depois, Deus tornou-se 'Criador' pela primeira vez [...] Antes da criação, Ele era Deus, mas não Criador. Isto é, na criação Deus ganhou um novo relacionamento, mas nenhum novo atributo. Ele não mudou Sua essência, mas Sua atividade externa [...] [O argumento da temporalidade divina] presume que agir no tempo é ser temporal. Não demonstra que o Ator é temporal; apenas que Seus atos são temporais. Os teístas clássicos não negam que as ações de Deus são temporais, eles apenas insistem que os atributos de Deus não são temporais".

Ao escutar e ler o seu trabalho, eu entendo que você defende a posição que Deus é eterno sem a criação e temporal após a criação. Minha pergunta, "Não seria possível que Deus poderia permanecer eterno enquanto Seus ATOS são vistos temporalmente?" Por que presumir que Ele deve se tornar "completamente" espacial e temporalmente localizado?

Um exemplo do que eu estou tentando dizer: Uma pessoa poderia tomar um carimbo com uma data e pressioná-lo em um pedaço de papel. Enquanto a estampa está fixa com aquela data específica - temos um tempo em que algo ocorreu - o carimbador não está necessariamente contido (tentando não utilizar termos especificamente emocionais como "preso") àquele tempo carimbado. Certo?

Estou tentando fazer sentido disso. Por que Deus simplesmente agindo no tempo O fixaria ao tempo? Além disso, não seria nem mesmo possível ou provável que um modelo de algum tipo de tempo hiper divino poderia existir (até mesmo ser formulado no futuro) e nós estejamos simplesmente limitados em compreender completamente um conceito como a eternidade?

Sinceramente,

Michael

Estados Unidos

  • United States

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Estou muito feliz em saber que você está achando os podcasts do Defenders úteis, Michael! Você certamente estará equipando seus alunos a pensarem profundamente sobre sua fé cristã.

A reposta a sua pergunta irá depender, eu acho, de qual visão de tempo você adota: uma visão flexiva (tensed ou teoria-A) ou uma visão aflexiva (tenseless ou teoria-B). De acordo com a teoria-B do tempo, não existe um tornar-se temporal independente da mente; todos os eventos no tempo são igualmente reais, assim como cada centímetro em uma régua é igualmente real. Nessa visão, é fácil ver como Deus pode existir fora do tempo e Seus atos serem localizados em diversos pontos no tempo. Ou, talvez seria mais correto dizer, tem apenas uma ação atemporal multi-facetada e seus efeitos ocorrem em vários pontos no tempo. Seria como uma pessoa de três dimensões simultaneamente, produzindo efeitos em vários lugares na terra plana de 2 dimensões. Uma vez que todo o "bloco" de 4 dimensões do espaço-tempo co-existe atemporalmente com Deus, Deus nunca entra em uma nova relação com ele, e Seus efeitos nele não precisam ser produzidos por ações sucessivas de Sua parte.

Contraste com a teoria-A. De acordo com essa visão, tornar-se temporal é real, e eventos no tempo não estão todos em pé de igualdade ontológica. Deus não pode atemporalmente causar eventos futuros ou eles existiriam em suas futuras coordenadas, e na teoria-A isso não acontece. Sua analogia do carimbador não é muito relevante. Só resume-se a dizer que alguém pode carimbar uma data falsa. O ponto relevante é que Deus não pode atemporalmente produzir um evento em uma data futura, sem que o evento exista atemporalmente naquela data.

O teólogo que você cita, na realidade, entrega sua defesa ao admitir que na criação Deus entra em uma nova relação com o universo. Se algo muda em relação a outras coisas, então ela passou por uma mudança extrínseca e, portanto, deve estar dentro do tempo. Por exemplo, se eu mudo em relação ao meu filho de estar em uma relação mais alta do que ele, para uma relação mais baixa, eu não mudei intrinsecamente. No entanto, a fim de passar por tal mudança relacional, eu devo estar dentro do tempo. Houve um tempo quando eu estive em uma relação, e então outro tempo em que eu estive em outra relação.

Tomás de Aquino reconheceu que Deus, passando mesmo por tal mudança extrínseca, seria suficiente para render Deus como temporal, e ele evitou esta conclusão apenas ao adotar a doutrina muito problemática que, enquanto criaturas estão realmente relacionadas com Deus, Deus não está realmente relacionado com as criaturas (ver minha discussão em Time and Eternity [Tempo e Eternidade]).

Então não está certo dizer que "[O argumento da temporalidade divina] presume que agir no tempo é ser temporal." E sim que se a teoria-A do tempo é verdadeira, então agir no tempo é ser temporal.

É fútil tentar evitar este argumento ao postular um hiper-tempo maior em que Deus produz todos os eventos em nosso tempo. Pois então todo o debate simplesmente se repete sobre o nível-hiper. O tempo-hiper é um tempo temporal ou atemporal? As mesmas conclusões seguirão, e não tem se ganhado nada em empurrar o debate para cima.

- William Lane Craig