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#276 Deus é um Ser no Mesmo Sentido que Nós Somos?

May 13, 2015
Q

Pergunta 1:

Você aceita a visão tradicionalmente atribuída a Duns Scotus: a saber, a univocidade do ser (pertencentes tanto a Deus quanto às criaturas)? Parece que suas interações com os ateus pressupõem a capacidade de raciocinar sobre uma espécie de plano neutro de, digamos, "verdade" ou "realidade".

Se assim for, o que você acha sobre a crítica popular desta visão como ontoteologia? Se Deus e as criaturas "são" da mesma forma e do mesmo jeito, então Deus é apenas mais um ser entre outros. A categoria filosófica do ser subsume até mesmo Deus sob sua jurisdição ontológica abrangente, problematizando assim a sua transcendência.

Obrigado!

Joshua

EUA

Pergunta 2:

Dr. Craig, o que é Deus? Eu levanto esta pergunta da mesma maneira que eu iria perguntar: "O que é um objeto concreto?" Por exemplo, um objeto concreto é um substrato com várias propriedades, ou é talvez apenas um feixe de tropos? Um objeto, dizemos, tem várias propriedades. Deus, por exemplo, tem a propriedade de ser onisciente, onipotente, amoroso, e todo bondoso. Mas é sempre muito difícil ver o que um objeto poderia ser além do conjunto de todas as suas propriedades. Assim, então, eu estou curioso para saber como você iria abordar esta pergunta. O que é Deus? Ele é algo além de todas as Suas propriedades? Se assim for, o que Ele seria?

Haigen

EUA

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Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Sim, Joshua, eu concordo plenamente com Scotus de que há um conceito unívoco de ser que se aplica a Deus e às criaturas. Um dos aspectos do pensamento de Tomás de Aquino que eu acho mais preocupante é sua afirmação de que podemos falar de Deus só em termos analógicos. Sem univocidade de sentido, permanecemos apenas com o agnosticismo sobre a natureza de Deus, capazes de dizer apenas o que Deus não é, não o que Ele é. Scotus justamente viu que quando dizemos que Deus é ou existe, estamos usando o termo no mesmo sentido em que dizemos que um homem é ou existe.

Quanto a ontoteologia, isso significa coisas diferentes para pessoas diferentes! Eu não estou dizendo que nós temos conhecimento abrangente ou certeza a respeito de Deus de modo a promover o orgulho, mas eu certamente sou um realista quando se trata de falar sobre Deus. Quando em discussões com ateus eu afirmo, "Deus existe" e eles respondem: "Deus não existe", podemos ter que ter certeza de que queremos dizer a mesma coisa por "Deus", mas não há nenhum equívoco sobre o significado de "existe."Creio que a visão bíblica é o realismo, e se a teologia moderna se sente desconfortável com isso, pior para a teologia moderna! Como o filósofo Thomas Morris costumava dizer, o Deus da Bíblia é o Deus de Abraão, Isaac e de Anselmo.

O problema que você apresenta nos leva ao coração do meu trabalho atual em asseidade divina. O que torna Deus mais do que apenas um ser entre muitos seres é precisamente Sua asseidade: só Deus é auto-existente; tudo o mais existe de forma contingente. Só Deus existe de si mesmo (a se); tudo o mais existe através de outro (ab alio). Isso faz Deus a fonte do ser para tudo além de si mesmo.

Esta doutrina é desafiada pelo platonismo, que afirma que existem infinidades de infinidades de seres necessários não criados que existem a se, objetos abstratos como os números, propriedades e proposições. Verdadeiramente, no platonismo Deus é um ser entre muitos seres e não o Criador de quem e por quem todas as coisas existem (I Cor. 8:6)!

Então, Haigen, Deus não é apenas um conjunto de propriedades. Um conjunto é um objeto abstrato, como são, mais plausivelmente as propriedades. Mas Deus é um objeto concreto, capaz de exercer poder causal para produzir efeitos. Além disso, o conjunto {onisciente, onipotente, amoroso, todo bondoso} não é, em si mesmo, onisciente, onipotente, amoroso, e todo bondoso, mais do que o conjunto dos números ímpares é em si um número ímpar! Então, Deus claramente não é apenas um conjunto de propriedades. Precisa haver algo que tem essas propriedades, uma substância ou uma coisa que é onisciente, etc. Deus é tal substância. Não é uma substância física, é claro, mas uma substância espiritual como uma mente.

Na verdade, porque eu sou um anti-platônico, eu estou inclinado a dizer que os conjuntos e propriedades não existem realmente. Usamos conversa de conjuntos e propriedades como um conveniente façon de parler (maneira de falar), mas essa conversa não deve ser tomada literalmente. Então, enquanto eu certamente acho que Deus é onisciente, onipotente, amoroso e todo bondoso, eu não vejo isso em termos de Deus estando em alguma relação misteriosa chamada exemplificação a alguns objetos abstratos além do espaço e do tempo. Ironicamente, nesse sentido, eu concordo com Aquino que Deus não é composto de substância e propriedades (ou acidentes, em sua terminologia). Mas, então, nem nós somos!

- William Lane Craig