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#294 A Plausibilidade em Fundamentar Valores Morais em Deus

May 16, 2015
Q

Caro Dr. Craig,

Muito obrigado pela sua fidelidade, zelo e integridade no serviço do Senhor. Eu sou um dos diretores de um capítulo do Reasonable Faith, e recentemente tenho discutido a base ontológica da moralidade com o Presidente da Sociedade de Honras de Filosofia da minha universidade, Phi Sigma Tau.

Meu amigo é um realista moral, mas ele não está convencido de que a natureza de Deus possa suficientemente constituir o Bem. Ele defendeu recentemente a posição de G.E. Moore, o especialista em ética britânico que defendia a ética não-naturalista.

O cerne do argumento de Moore é que o "Bem" é inefável, além da definição. Ele dá o seguinte argumento "pergunta aberta":

Se a natureza de Deus é o Bem, então dizer que "O bem é a natureza de Deus" é equivalente a dizer "a natureza de Deus é a natureza de Deus", o que não é dizer muito.

Eu propus a seguinte resposta para definir/entender o quê e por quê o Bem está na natureza de Deus e eu adoraria sua ajuda e feedback.

1) Qualidades como "compaixão", "amor", "justiça" são boas porque elas são encontradas na natureza de Deus, ou boas independentemente de Deus?

2) Afirmar que elas são boas independentemente de Deus é propor platonismo.

3) O platonismo falha.

4) Portanto, elas são boas porque elas são encontradas na natureza de Deus.

Mas porque elas deveriam ser boas porque são encontradas na natureza de Deus? Colocado em outras palavras, porque a natureza de Deus é boa?

6) O que é bom é intrinsecamente valioso, e deve ser valorizado, apreciado, ou procurado.

7) Deus é, por definição, o Maior Ser Possível.

8) O Maior Ser Possível é aquele que é mais valioso, digno de apreciação, e procurado. <== Esta é a premissa crucial.

9) Portanto, Deus é aquele que é perfeitamente valioso, digno de apreço e de ser procurado.

10) A partir de (6), (7), (8) e (9), a natureza de Deus é o Bem.

A minha pergunta de volta para ele: Se Deus não existe, o que é intrinsecamente valioso e deve ser valorizado, apreciado, ou procurado?

1) Se Deus não existe, então não há nada transcendente no universo.

2) Tudo no universo é fundamentalmente a mesma coisa (quarks e ondas)

3) Portanto, nada no universo é qualitativamente diferente de qualquer outra coisa, e, portanto, não reivindica valorizar algo mais do que qualquer outra coisa.

4) Nenhuma coisa composta é mais valiosa do que qualquer outra coisa.

5) Tudo é do mesmo valor.

6) Devemos valorizar tudo (átomos, plantas, planetas, pessoas (feitos de cérebros, carbono, etc.), vulcões, cães, etc.) da mesma forma.

7) É irracional valorizar as pessoas mais do que as pedras.

8) Por isso, não é verdade que devemos valorizar as pessoas mais do que as pedras - elas são a mesma coisa.

Mas, se nós trazemos Deus de volta para a figura, agora há algo transcendente e maior do que todo o resto. Por conseguinte, esta coisa merece ser mais valorizada do que todo o resto. E, mais uma vez, temos uma base para avaliar as coisas de acordo com Deus (como o amor, a compaixão, etc.) mais do que outras coisas.

Na verdade, estarei debatendo com essa pessoa no campus em cerca de um mês, e então gostaria de sua ajuda sobre este assunto.

Obrigado mais uma vez Dr. Craig.Você é uma inspiração para mim para mostrar a necessidade e exemplo de acadêmico cristão de Deus.

Sinceramente,

Devin

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Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Talvez eu não devesse ter escolhido esta pergunta, Devin, já que eu simplesmente irei manifestar a meu acordo com quase tudo o que você disse! Mas serve como um bom modelo, para os nossos leitores, de pensamento claro.

Minha principal correção viria em resposta ao apelo do seu amigo para G. E. Moore para justificar a rejeição da ética teísta. Como já referi em outro lugar, é preciso distinguir claramente entre semântica moral e ontologia moral. Semântica moral pergunta sobre o significado dos termos morais. Ontologia moral pergunta sobre a realidade dos valores e deveres morais. A alegação de que os valores morais objetivos são fundamentados em Deus é uma afirmação sobre ontologia moral, e não sobre semântica moral. O teísta não faz qualquer afirmação de que o "bem" deve de alguma forma ser definido em termos teístas, por exemplo, "pertencente à natureza de Deus." O teísta pode, assim, abraçar plenamente a visão de Moore sobre o "bem" sendo um termo primitivo, não devendo ser definido em termos de outra coisa. Seu amigo claramente confundiu a semântica moral e a ontologia moral.

O que a sua pergunta realmente aborda, penso eu, não é o significado do termo "bem", mas, sim, a plausibilidade da ética teísta, que considera Deus como o paradigma do bem. Qualquer um é livre para propor qualquer teoria moral de que goste e vamos avaliar a sua plausibilidade. Então, se o teísta propõe considerar a Deus como o paradigma da bondade, quão plausível é esta ontologia?

Parece-me que você argumenta eficazmente para sua plausibilidade.

Em primeiro lugar, como você aponta em seu primeiro e terceiro argumentos, além de Deus fundamentar valores morais, simplesmente não parece haver qualquer outra coisa que poderia plausivelmente fazer o trabalho. Este é o nervo do argumento moral a favor de Deus. Concordo que o platonismo é muito defeituoso. O humanista poderia tentar fundamentar os valores objetivos em seres humanos, mas esse parece ser um ponto de parada prematuro e implausível na busca de explicações. Mas quando chegamos a Deus, simplesmente não há mais nada a que se possa recorrer. Então, o regresso de explicações pára plausivelmente em Deus.

Em segundo lugar, como o maior ser concebível, Deus deve ser moralmente perfeito. Pois é melhor ser moralmente perfeito do que ser moralmente falho. Isto parece-me racionalmente inegável. Além disso, Deus, por definição, deve ser digno de adoração, e apenas um ser perfeito pode ser digno de adoração (ao contrário de, por exemplo, admiração). É por isso que, como o filósofo de Oxford, Peter Millican, aponta, não pode haver um Deus mau. Podemos imaginar um criador designer do universo mau em um mundo ateísta (um deus maligno), mas tal ser não seria nem digno de adoração nem maximamente grande e, portanto, não seria Deus. Gostaria de acrescentar também que é melhor ser o paradigma da bondade do que simplesmente estar de acordo com esse paradigma, a fim de que Deus deve ser a bondade em si.

Seus pontos são relevantes para aqueles que equivocadamente tentam resgatar o falso dilema colocado no argumento de Eutífron: ou algo é bom porque Deus assim deseja ou Deus deseja algo porque é bom. Porque essas alternativas não são contraditórias, é aberto ao teísta propor uma terceira alternativa, viz., Deus deseja alguma coisa porque Ele é bom. Insatisfeito com esta derrota de seu dilema, alguns exigem: algo é bom por causa da maneira como Deus é, ou Deus é dessa forma porque algo é bom? O crítico não está escutando. Nós já dissemos que algo é bom por causa da maneira como Deus é. "Mas por que Deus é bom?", o crítico persiste. É difícil dar sentido a esta pergunta. A teoria moral diz apenas é que Deus é o paradigma do bem, e não faz sentido perguntar porque o paradigma da bondade é bom. O crítico deve estar se perguntando: "Por que acredita na sua teoria?" A resposta é, "por que faz o melhor sentido dos valores e deveres morais objetivos." É a teoria ética mais plausível que há. Seus argumentos são, basicamente, defesas da plausibilidade da ética teísta, e eu acho que são bem sucedidos.

- William Lane Craig