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#306 A Criação Implica Aperfeiçoamento Moral?

May 16, 2015
Q

Olá, Dr. Craig. Eu sou um agnóstico, ex-cristão e ex-ateu militante, que vem tendo uma crise existencial incessante por muito tempo. Eu leio tanto quanto eu sou capaz e avalio os argumentos a favor e contra o cristianismo e a existência de Deus tanto quanto eu posso. Conheço o seu ministério e trabalho acadêmico há vários anos, e em grande medida devo meu abandono do tipo de ateísmo Richard Dawkins ao seu trabalho e ao poder intelectual que você traz para a defesa do teísmo cristão. Agradeço-lhe por isso, apesar de que eu não vou negar que permaneço em cima do muro e inclinado contra seus pontos de vista. Não sou filósofo. Eu nunca sequer me formei no ensino médio, mas eu tenho uma pergunta sincera a respeito de Deus e do mal de um ângulo que eu não ouvi abordado antes.

Deus, como classicamente idealizado, é o maior ser concebível, e isso inclui a sua bondade moral, ou seja, ele é o maior bem, por definição. No meu entendimento, isso significaria que não há qualquer estado de coisas que, em conjunto com a bondade de Deus, poderiam render um estado de coisas moralmente melhor. Nenhuma realidade poderia ser melhor do que a própria existência de Deus como um autônomo, fato bruto. Mas você e outros teístas afirmam que Deus permite o mal porque ele tem razões moralmente suficientes para fazê-lo. Essas razões são tais que, permitir o mal, traz um estado de coisas moralmente melhor, por exemplo, é melhor para os seres humanos ter livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal do que seria se fôssemos causalmente determinados a escolher o bem. Mas, então, por que Deus criaria os seres humanos com a capacidade de escolher o mal em primeiro lugar? Que propósito moral isso serviria se a própria existência de Deus é maximamente, moralmente boa? O mal não seria gratuito por definição? Afinal, seres humanos com livre arbítrio para escolher o mal não acrescentam nada à realidade de uma maneira que seja melhor do que a própria existência de Deus, por isso parece-me que não há razão moralmente suficiente para permitir o mal. Se a existência de Deus fosse toda a realidade composta, isso seria "suficientemente bom", porque a natureza de Deus é máxima, bondade moral irrepreensível e perfeição. Nenhum propósito moral é servido através da criação de seres com livre-arbítrio para escolher o mal que já não seja cumprido pela bondade de Deus, apenas. Então, por que Deus nos criou?

Eric

Estados Unidos

  • United States

Dr. Craig

Dr. craig’s response


A [

Estou tão contente, Eric, que o seu antagonismo em relação a sua ex-fé esteja diminuindo! É tão desnecessário. Parece que muitos ex-cristãos tenham sido criados em ambientes que eram disfuncionais, anti-intelectuais, e até mesmo emocionalmente abusivos. Não só a fé cristã histórica tem muito mais a oferecer do que isso, mas o renascimento contemporâneo da filosofia cristã oferece uma oportunidade para os crentes beberem profundamente do poço de sérios pensamento cristão.

Você caracterizou corretamente o teísmo cristão clássico como detentor de que Deus é um ser maximamente grande. Uma vez que Deus é um ser moralmente perfeito, eu estou inclinado a concordar com você que a adição de estados de bondade finitos não pode aumentar a bondade total da realidade. Adicionando quantidades de bondade à bondade de Deus é um pouco como a adição de quantidades finitas para o infinito real: para qualquer número natural n, ℵ0 + n = ℵ0. O infinito apenas engole qualquer número finito adicionado a ele, deixando-nos apenas com o infinito. Assim, o estado de coisas que consistem em (Deus + criaturas) não é moralmente melhor do que o estado de coisas que consistem em apenas (Deus).

Observe que isso não implica que não podemos comparar estados finitos de coisas uns com os outros em termos da sua bondade moral. Assim como podemos comparar os números naturais em termos de quantidade, podemos comparar estados finitos de coisas em termos de sua bondade moral. Por isso, não é problemático para os teístas dizerem que "Deus permite o mal, porque ele tem razões moralmente suficientes para fazê-lo. Essas razões são tais que permitir o mal traz um estado de coisas moralmente melhor, por exemplo, é melhor para os seres humanos ter livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal do que seria se fôssemos causalmente determinados a escolher o bem."Aqui, o contraste é entre dois estados finitos de coisas, em termos de sua bondade moral. É melhor para os seres humanos serem dotados de livre-arbítrio e, portanto, serem agentes morais do que serem meros fantoches ou máquinas.

O que segue a partir do que já foi dito, eu acho, é que o motivo de Deus para a criação não pode ser o de melhorar moralmente o estado geral da realidade. Não é parte do teísmo cristão dizer que a motivação de Deus para a criação foi tornar a realidade moralmente melhor. Pelo contrário, como já expliquei em outro lugar (por exemplo, Pergunta # 172), é plausível que o motivo de Deus para a criação seja o de doar benefício inestimável para as criaturas, ou seja, o benefício de conhecer a Deus, que é a própria Bondade. Isso não quer dizer que um mundo em que Deus cria seres é moralmente melhor do que um mundo no qual Ele se abstém de criação. De modo nenhum; dada a perfeita bondade de Deus, tal mundo não é moralmente melhor do que um mundo no qual Deus permanece sozinho. É por isso que Deus não está moralmente obrigado a criar um mundo assim. Em vez disso, a criação, como a salvação, é simplesmente pela graça.

Você diz: "Nenhum propósito moral é servido através da criação de seres com livre-arbítrio para escolher o mal que já não seja cumprido pela bondade de Deus, apenas." Eu não tenho certeza do que você quer dizer com "propósito moral." Negar que o propósito de Deus na criação é para melhorar moralmente o estado geral da realidade não implica que Deus não age com fins morais. Por exemplo, é moralmente melhor que haja pessoas com a liberdade de escolher o mal do que a existência de meros brutos. Esse parece ser um propósito moral para a criação de tais pessoas, em vez de brutos. Podemos até afirmar que é moralmente melhor que as criaturas com o livre arbítrio existam do que a inexistência de tais criaturas. Isso daria um propósito moral para criá-las. O que permanece correto, porém, é que o propósito da criação não pode ser o de melhorar moralmente o estado global da realidade. Mas já que eu não acho que esse é o propósito da criação, tal conclusão é inconsequente.

Assim Deus criou você e eu, Eric, a fim de que possamos experimentar a maravilha e alegria de conhecê-lo para sempre, a fonte de infinita bondade e amor. Essa é uma perspectiva maravilhosa!

- William Lane Craig